OS SONHOS E A RELAÇÃO COM O SONO

Os sonhos podem ser vívidos e memoráveis e ou podem ser esquecidos rapidamente ao acordar e também podem ser lúcidos ou não. Trata-se de uma experiência mental vivida durante a fase do sono REM, observado pelo movimento rápido dos olhos, e de um estado mais profundo do adormecimento. Nesse processo a pessoa irá experimentar uma variedade de imagens, sensações, emoções e pensamentos que pareciam estar esquecidos, mas são lembrados durante o sonho apontando uma necessidade da pessoa de acordo com a experiência daquele contexto e momento.

A ciência psicologia, em determinadas abordagens teóricas, afirma que alguns sonhos podem ser uma forma de processar informações e emoções; podem ter significados simbólicos ou psicológicos. Tanto a psicologia quanto a neurociências está revelando pesquisas que identificam padrões cerebrais específicos durante o processo do sono e dos sonhos que provocam pesadelos, paralisias do sono, parasonia, insônia e diversas alterações comportamentais que afetam as experiências cotidianas das pessoas das mais variadas formas.    

              

Destacamos aqui alguns conhecimentos que vem influenciando o pensamento de estudiosos interessados pela mente humana e as reflexões estão direcionadas para a compreensão de que os sonhos são utilizados para esclarecer os processos mentais inconscientes.

Segundo Sigmund Freud (1856-1939), na sua obra “Interpretação dos Sonhos” (1899), destaca que os sonhos são uma porta de entrada para o inconsciente e a maior parte do material mental inclui desejos reprimidos e traumas, bem como emoções não processadas que podem estar relacionadas a desejos sexuais, agressivos, inaceitáveis e perturbadores para uma mente consciente.

Trata-se de conteúdos latentes que são interpretados pelo analista no processo de análise do paciente, promovendo um encorajamento do paciente para falar livremente enquanto o analista tenta desvendar os símbolos e as associações presentes nos sonhos. Nesse processo tem-se um esforço para identificar um significado explorando as conexões entre as palavras e os símbolos dos sonhos relatados pelo paciente.

Freud acreditava que os sonhos serviam como uma tentativa da mente de resolver conflitos internos ao expressar desejos reprimidos de forma disfarçada e de maneira menos ameaçadora. Trata-se de uma teoria que promove sérias críticas, mas ainda hoje é muito estudada e aplicada por vários terapeutas. Podemos dizer ainda que se trata de um processo que a pessoa poderá se identificar e elaborar suas questões a depender do contexto vivenciado e do sentido que ela identifica nesse seu processo.

Na  psicologia analítica de Carl Gustav Jung (1875-1961), ele compreende os sonhos como uma expressão do inconsciente, contendo símbolos que refletem aspectos profundos e universais da psique humana. Para Jung a interpretação dos sonhos pode ser uma ferramenta valiosa para a compreensão pessoal, o crescimento e o desenvolvimento da personalidade.

Para o psiquiatra austríaco Viktor Frankl (1905-1997), criador da Logoterapia e Análise Existencial, a teoria do “Sentido da Vida”, a interpretação dos sonhos apresenta uma perspectiva diferenciada no que se refere a entender os sonhos como parte da busca humana por sentido e propósito na vida. Os sonhos são vistos como expressão do espírito humano em sua busca por significado e suas preocupações existenciais. O foco está na importância de respeitar a autonomia da pessoa e em colaborar no seu processo de exploração dos sonhos como parte do processo terapêutico. Para Frankl, “existe um caminho em que o inconsciente e também o inconsciente espiritual como que se abre à nossa investigação: trata-se dos sonhos”.

Nessa perspectiva da ciência psicologia podemos considerar que o processo de “interpretação” dos sonhos dentro do processo psicoterapêutico será considerado as profundezas reveladas pelo inconsciente de um ser humano visto a partir de uma perspectiva: bio-psico-socio-espiritual que poderá ser compreendido pelo seu modo único e irrepetível de ser-no-no-mundo. Um processo que envolve o autoconhecimento e a autocompreensão das suas expressões a partir das experiências existenciais que lhe proporcionará uma saúde mental e um viver equilibrado. Desde que o próprio indivíduo queira se abrir para o autoconhecimento.

Na perspectiva da filosofia espiritualista do Racionalismo Cristão, os sonhos são explicados pelo médico, Dr. Antônio Pinheiro Guedes (1842-1908), como um fenômeno puramente psíquico onde pode ser identificadas certas alucinações, verdadeiros casos de mediunidade, mas que não obedecem às leis orgânicas. Os sonhos podem ser comparados aos estados de sonambulismo onde a alma do magnetizado vê e ouve tudo aquilo que se dá a longas distâncias e consegue ler no passado e no futuro situações e relações da existência atual e também de existências pretéritas.

Nos casos de “nevroses, sonambulismo, catalepsias, loucura”, termos utilizados à época, A. Pinheiro Guedes relaciona esses casos a fenômenos espiriticos que precisam ser estudados à luz da espiritualidade, onde podemos explicar a existência do corpo astral, corpo anímico ou perispírito que é constituído pelo fluido universal e promove o acesso a dimensões espirituais. Tanto o sono quanto os sonhos são processos puramente espirituais no qual o espírito reúne experiências vividas ao longo do processo evolucional acumulado através de inúmeras reencarnações e vai arquivando todos os fragmentados em uma espécie de arquivo no seu corpo fluídico. Todas as experiências adquiridas ao longo desse processo o espírito irá guardar como registro, pois servirá em cada encarnação para lhe facilitar sua jornada e a obtenção de novos conhecimentos e novas habilidades e qualidades que promoverão o apuro e o aprimoramento de seus atributos.

Para tanto é preciso saber racionar e manejar todos os atributos espirituais que constitui o espírito e lhe favorecerá na sua evolução. Saber fazer uso adequado desses recursos é condição fundamental para uma vida em equilíbrio, para o exercício de uma vontade bem direcionada e um domínio próprio que levará o ser a escalas mais evoluídas nos patamares da espiritualidade.

Outro aspecto importante,  relacionado com a interpretação dos sonhos, é o fenômeno do desdobramento que ocorre durante o sono de forma natural ou induzida, mas também ocorre em estados de “transe” onde pessoas que apresentam maior sensibilidade mediúnica são capazes de acessar elementos que se ligam entre os planos físicos e os planos espirituais experimentando fenômenos por assim dizer “inexplicáveis”, mas que são esclarecidos com o conhecimento da espiritualidade.

Durante o “transe” mediúnico, nas correntes formadas nas reuniões das casas racionalistas cristãs, as Forças Superiores desempenham um trabalho de elevadíssima segurança, proporcionando aos médiuns a condição de intermediar as comunicações de orientações que beneficiam a toda a humanidade. Daí a importância de se conhecer nas especificidades de cada um que revelam essas sensibilidades sua capacidade de direcioná-las para o caminho construtivo e benéfico para o próprio ser e para toda a humana.

Por outro lado, há pessoas que vivenciam essas experiências de formas conturbadas, através de sonhos, pesadelos e alucinações que repercutem em seus comportamentos, por não se voltar para o conhecimento que a ciência psíquica da espiritualidade científica, racional e cristã pode lhe proporcionar.

Os sonhos são sinais de que o ser poderá se despertar para o conhecimento da espiritualidade quando se abre para conhecer as forças que a natureza emana e atua em todo Universo regido pela Força Criadora, Inteligência Universal em perfeito equilíbrio para todos os seres.

“Em todos os fenômenos psíquicos nada há de sobrenatural, mas simplesmente manifestações da força. Em suas numerosas aplicações.” Luiz de Mattos,1971 p.245)

Por, Cristina Araújo Leão, 21/09/2023

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