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05 Dez OS PAIS, AS TECNOLOGIAS DIGITAIS E A FORMAÇÃO DE CRIANÇAS E JOVENS. PARTE II
Quais as consequências?
Para melhor compreensão das consequências, que são muitas, escolhemos apenas três tópicos relacionados aos problemas que podem trazer as tecnologias digitais e as redes sociais para crianças, jovens e adultos: os efeitos da exposição precoce das crianças às telas digitais (smartphones, tablets e televisão), a perda da privacidade com a exposição de crianças nas redes sociais, e, finalmente, o problema da dependência digital. Esses tópicos foram escolhidos, pois, se conhecidos, podem ser controlados por pais e mães e educadores.
Nesse segundo texto, trazemos à luz os dois primeiros tópicos e orientações práticas de como evitá-los. O objetivo é contribuir para que os leitores, especialmente os pais e mães, possam cumprir plenamente sua função formadora das gerações nativas digitais.
1- A exposição precoce das crianças às telas digitais:
- As crianças nascidas em uma cultura que é dominada pela tecnologia, trocam facilmente o brincar imaginativo, ao ar livre e a interação com outros pelo uso das telas. Essa nova geração vem deixando de lado brincadeiras sensoriais e interativas, assim como correr, pular, imaginar e compartilhar experiências com outras crianças. Com o passar dos anos a tendência é de que as brincadeiras se atualizem e as crianças passem a ter mais contato com brinquedos eletrônicos e tecnológicos e os pais na correria do dia conturbado, acabam usando os dispositivos como meio de entreter as crianças, ou para evitar que façam bagunça, chorem e se desesperem em locais públicos.
- Após o uso excessivo de eletrônicos, as crianças demonstram alterações de comportamento como irritação, sonolência e choro, principalmente quando são repreendidos quanto a continuar usando o aparelho.
- As relações familiares sofrem grandes alterações. A interação e socialização entre a família perde o seu valor significativo para as crianças e a presença dos pais, que são os principais mediadores da criança com os estímulos do ambiente, é substituída pelas telas.
- Também acarreta prejuízos a longo prazo, como na sociabilidade. A criança fica a maior parte do tempo imersa em um mundo subjetivo e virtual. Desenvolve uma dificuldade nas habilidades de socialização com outras crianças, pois não recebe os estímulos adequados para interagir, compartilhar e criar novos vínculos, brincar e interagir com seus semelhantes, já que preferem entreter-se com as telas ao invés de compartilhar momentos com pessoas.
- Pode acarretar também distúrbio do sono, agressividade, ansiedade, má alimentação e dificuldade de concentração.
- Podem influenciar diretamente na formação moral das crianças, pois os conteúdos das redes sociais e os jogos transmitem valores morais, não apenas positivos.
- Sem o afeto propiciado pela intermediação dos pais e amiguinhos, a criança pode crescer amarrada às imagens e falas padronizadas sem saber distinguir o mundo real do virtual.
O que fazer?
Em relação à exposição precoce das crianças às telas digitais, e conforme dados da Organização Mundial da Saúde e da Sociedade Brasileira de Pediatria, as crianças de até dois anos de idade não devem ser expostas a nenhum tipo de tecnologia digital, nem mesmo as televisões. Preservar os primeiros anos de vida e proporcionar experiências com estímulos adequados é fundamental, para que assim, a tecnologia possa ser inserida no tempo certo e adequado.
O foco durante a infância deve ser nas brincadeiras lúdicas pessoais. Nesta fase caracterizada pela imitação e a imaginação, as brincadeiras são um importante meio de desenvolvimento da linguagem, da socialização e da afetividade que são aspectos fundamentais para um desenvolvimento saudável. O tempo livre pode ser aproveitado com passeios, leituras e narração de histórias. É de extrema importância a participação dos pais nessa fase do desenvolvimento da criança para que ela possa ocorrer de forma segura, cercada de afeto e carinho. As pesquisas revelam:
…a necessidade de conscientizar os pais acerca da importância do brincar na infância. Todos os estudos seguem uma mesma direção afirmando que, por mais que vivemos em épocas tecnológicas, as brincadeiras ao ar livre, interação com outras crianças, jogos de tabuleiro e leituras são experiências ricas e base para um desenvolvimento saudável, sendo que não podem ser substituídas ou sequer comparadas com as telas digitais. Sabe-se que os eletrônicos são atrativos e interessantes, mas cabe aos pais proporcionar momentos de interação com o ambiente e com outras crianças e incentivá-las para que isso também se torne prazeroso.(Costa; Almeida, p. 17 e 18. 2021).
Enfim, os pais não podem fugir à sua responsabilidade, monitorando o uso das tecnologias pelos filhos, estabelecendo limites e, principalmente, sendo um modelo adequado em relação ao uso delas.
2- A perda da privacidade das crianças, com a exposição nas redes sociais
Com o uso intensivo das redes sociais e, em consequência, a busca por seguidores, generalizou-se o hábito de exposição da vida privada, pessoal e familiar, incluindo das crianças. “O compartilhamento de imagens e vídeos é um hábito relativamente novo, por isso as repercussões na vida futura das crianças ainda não são totalmente conhecidas, esta é a parte mais preocupante da exposição excessiva.” (Souza, 2021).
Muitos pais e mães expõem fotos e informações de seus filhos menores, o que pode colocá-los em situação de vulnerabilidade. Para alguns especialistas, as crianças jamais deveriam ser expostas publicamente nas redes sociais devido à insegurança que isso representa, tanto física, quanto afetivamente. Tanto as imagens como as informações das crianças podem estar sujeitas ao uso indevido por pessoas inescrupulosas. Podem ser utilizadas para cyberbullying, podem estar sujeitas a roubo de identidade, ou podem ser usadas por criminosos, por pedófilos, trazendo outras ameaças à sua segurança.
No Brasil ainda não existem medidas legislativas que regulem a privacidade das crianças pelos provedores de internet. “Temos vários projetos de lei barrados por indústrias de entretenimento, mídias e provedores que lucram em demasia com esse tipo de compartilhamento”, é o comentário da médica Evelyn Eisenstein, coordenadora do Grupo de Saúde Digital da Sociedade Brasileira de Pediatria. Para a médica, a privacidade digital é uma garantia de que as crianças, jovens e adolescentes possam, no futuro, construírem a própria identidade digital. A criança é um ser de direitos que devem ser preservados. (Souza, 2021).
Finalmente, uma condição bastante preocupante é a dos influencers mirins pois a falta de discernimento infantil, podem levá-las a construir uma “vida falsa”, ou seja, de aparências, a partir de uma personalidade moldada para agradar os outros, para obter likes e aumentar os seguidores, o que é um ponto muito grave, considerando a força das redes sociais e que se trata de pessoas em formação. Além disso, há o risco do abuso e exploração infantil, por interesses econômicos dos pais.
O que fazer?
Novamente, também quanto à exposição de crianças nas redes sociais é importante a mediação parental em acessos a conteúdos nas redes sociais para tentar reduzir problemas relacionados à segurança e à saúde.
A criança não tem habilidade cognitiva para discernir com clareza a respeito dos riscos relacionados ao compartilhamento de informações, incluindo a sua imagem. Podemos completar que o tema é muito complexo e delicado. Nem adultos têm essa capacidade, motivo pelo qual multiplicam-se nas empresas, escolas, universidades, os comitês de ética, nos quais grupos de pessoas se reúnem para discutir os vários aspectos envolvidos, para só então, deliberar. Não são apenas os pais que devem ser mais cuidadosos, mas também familiares, educadores e cuidadores. Eles precisam estar cientes das possíveis consequências indesejadas para a saúde das crianças.
Os pais que desejam compartilhar fotos e vídeos de seus filhos podem tomar medidas protetivas para garantir que o conteúdo não seja usado para fins maliciosos. Por exemplo, é possível limitar o público de postagens para que apenas aqueles em quem se confia possam ver o conteúdo. Além disso, não se deve compartilhar: dados de localização, imagens de filhos não totalmente vestidos, fotos e vídeos ou detalhes sobre outras crianças, nome completo da criança, data de nascimento da criança, informações sobre a escola que frequenta ou a imagem da criança com uniforme escolar.
Em síntese, é preciso saber que não é inofensivo compartilhar conteúdo online. É importante que pais, mães, avós, tios, professores, cuidadores busquem conhecimento e informação sobre mídias, sobre os espaços virtuais, as redes sociais acessados pelas crianças, adolescentes e jovens. É preciso compreender a função e a exposição que eles estão exercendo nesses espaços, agindo em prol de garantir o cuidado e a saúde deles, o que pode significar deliberação sobre o que acessar, o tempo de utilização, e o conteúdo compartilhado, bem como abertura e conhecimento para um diálogo esclarecedor.
Por Ivanise Monfredini
Referências:
CANTERLE, Josiane. Dependência digital prejudica saúde de adolescentes. In: SECRETARIA DE SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL (SES). ADOLESCENTRO. Disponível em: https://www.saude.df.gov.br/web/guest/w/dependenciadigitalprejudica-saude-de-adolescentes
COSTA, Larissa Silvana; ALMEIDA, Maria Paula Pereira Matos de. A substituição do brincar: implicações do uso de tecnologias por crianças de 0 a 2 anos. Faculdade de Psicologia. Universidade do Sul de Santa Catarina. Unisul. 2021. Disponível em: https://repositorio.animaeducacao.com.br/handle/ANIMA/20066
COTTAS, Maria. Educar filhos é preocupação de pais. In: Coleção Clássicos do racionalismo Cristão – v.3. Rio de Janeiro: Racionalismo Cristão, 2014.
IBERDROLA: Como combater a dependência das redes sociais. Dependência das redes sociais: principais causas e sintomas. Disponível em: https://www.iberdrola.com/compromisso-social/como-redes-sociais-afetam-jovens
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Diretrizes sobre atividade física, comportamento sedentário e sono para crianças menores de cinco anos de idade. 2019. Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/311664/9789241550536- eng.pdf?sequence=1&isAllowed=y.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Manual de orientação: saúde da criança e adolescência na era digital. Rio de Janeiro: SBP; 2016. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/2016/11/19166d-MOrient-Saude-Crian-e- Adolesc.pdf.
SOUZA, Ludmilla.Exposição excessiva de crianças em redes sociais pode causar danos. Pediatras alertam para os perigos desse hábito, o sharenting. In: Agência Brasil. Disponível em:
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