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05 Dez OS PAIS, AS TECNOLOGIAS DIGITAIS E A FORMAÇÃO DE CRIANÇAS E JOVENS. PARTE III
Quais as consequências?
Para finalizar a apresentação do tema, nesse texto abordaremos a terceira e última das consequências que selecionamos, e que estão relacionadas aos problemas que podem trazer as tecnologias digitais e as redes sociais para crianças, jovens e adultos. No texto anterior tratamos dos efeitos da exposição precoce das crianças às telas digitais (smartphones, tablets e televisão) e da perda da privacidade com a exposição de crianças nas redes sociais. Neste terceiro texto, trazemos à luz o problema da dependência digital. Esses tópicos foram escolhidos, pois, se conhecidos, podem ser controlados por pais e mães e educadores. O objetivo é contribuir para que os leitores, especialmente os pais e mães, possam cumprir plenamente sua função formadora das gerações nativas digitais.
3- A dependência digital entre adolescentes, jovens e adultos
Os especialistas informam que há um perfil majoritário do dependente digital, que é o de jovens de 16 a 24 anos, sendo que os adolescentes “caem” mais facilmente na dependência por três motivos: a tendência à impulsividade, a necessidade de pertencimento a um grupo e de expandir e ampliar a influência social. Já entre os jovens e adultos, a dependência é facilitada entre aqueles que têm baixa autoestima, sentem-se insatisfeitos consigo mesmos, estão deprimidos ou são hiperativos, ou, ainda, por carência afetiva, que tentam preencher com os famosos likes. As consequências apontadas são:
- Muitos jovens procuram as redes quase compulsivamente para experimentar uma intensa — mas sempre breve — sensação de satisfação que, no entanto, pode ser contraproducente uma vez que os tornam dependentes, ao longo do tempo, da opinião dos outros.
- As redes sociais debilitam os laços humanos. A dependência das redes sociais implica uma certa sensação de solidão já que os laços que formamos através da Internet não são, no final, os laços que unem, de fato, mas, que preocupam.
- Pode levar a prejuízos na adolescência e na vida adulta.
- Pode resultar em obesidade, isolamento familiar, déficit na visão, dores nas costas, hiperatividade, dificuldade de foco e aprendizagem e também o favorecimento a vícios de drogas e álcool.
- Nervosismo quando não se tem acesso à Internet, a rede social não funciona ou está mais lenta do que o habitual.
- Inquietação quando não tem o smartphone ao alcance da mão.
- Mal estar se não receber likes (curtidas), retweets ou visualizações.
- Dificuldade de se desligar das redes sociais, mesmo durante a realização de tarefas em que o uso do celular é proibido, como dirigir.
- Preferir a comunicação com amigos e familiares através de redes sociais em vez de frente a frente.
- Sentir a necessidade de compartilhar qualquer coisa da vida diária.
- Achar que a vida dos outros é melhor do que a sua, em função do que vê nas redes.
O que fazer?
Diante dessas informações, que nos indicam que as tecnologias digitais também podem ter impactos negativos na nossa formação e dos nossos filhos, parece evidente que o exagero na relação com as tecnologias e as redes sociais, além do desconhecimento dos mecanismos envolvidos na sua utilização, são a base do problema, o que sugere que devemos agir com equilíbrio no uso delas, e buscar conhecimento sobre o assunto.
Recomenda-se prevenir a dependência digital adotando algumas práticas simples:
- Estabelecer um tempo mínimo de 15 minutos entre conexões.
- Prescindir do celular em momentos-chave do dia (café da manhã, almoço ou jantar).
- Desativar as notificações automáticas.
- Ativar o modo silencioso do celular e não utilizá-lo, nem como relógio, nem como despertador, para evitar a tentação.
- Estabelecer um tempo mínimo por dia para desenvolver atividades totalmente desconectadas — como praticar esporte, ler ou ouvir música.
- Reduzir o número de amigos nas redes sociais.
- Eliminar aplicativos e abandonar grupos de WhatsApp prescindíveis.
Reflexões finais
A evolução da humanidade é um processo inquestionável e as mudanças tecnológicas são ao mesmo tempo resultado desta evolução, como também estão ao serviço dela, portanto, estão a serviço da evolução humana e não o contrário. Homens e Mulheres devem estar preparados para dominar as tecnologias e colocá-las ao serviço de ideais e projetos que se sintonizem com esse movimento incessante. Jamais pessoas manipuladas passivamente por interesses financeiros escusos poderão exercer plenamente seu papel nesse movimento evolutivo. Por esses motivos, cada um deve colocar-se de maneira ativa diante desses instrumentos maravilhosos que são as tecnologias digitais, sob o risco de entregar à sociedade, pessoas que mal diferenciam o real do virtual, o que é muito grave.
As tecnologias não substituem os relacionamentos. Pais e mães precisam estar presentes na educação deles. Como afirma Maria Cottas “educar é ato de amor espiritual” e é da formação legada aos filhos, que se ergue uma sociedade mais justa e humana. Como afirma, ainda, Maria Cottas: “Os pais, conscientes do papel que desempenham no arcabouço de uma sociedade justa e fraterna, ensinam os filhos a serem verdadeiros, a respeitarem os semelhantes, sobretudo os mais velhos, que muito têm para ensinar com sua experiência de vida.” (Cottas, p.62. 2014)
Assim, os mais velhos, os pais, não devem se intimidar diante do desconhecido mundo digital e se acomodarem passivamente ao que entra pelo celular e outras tecnologias. Ao contrário, devem agir ativamente buscando informação e formação tecnológica para cumprirem a responsabilidade de educar a geração de nativos digitais.
Os seres humanos, com ou sem tecnologia, continuam sendo seres humanos: espíritos diferentes, que aportam neste plano terreno, trazendo experiências diversas e que, na relação com uns com os outros, aprendem, crescem, se fazem plenos espiritualmente. Nenhuma tecnologia é capaz, ainda, de eliminar essa necessidade. Todas as análises sintetizadas aqui neste texto apontam a importância das relações humanas, do cuidado uns com os outros, do diálogo, da presença, especialmente de pais e mães junto aos seus filhos. As tecnologias digitais e as redes sociais ainda não substituem o imenso potencial formativo dos relacionamentos humanos pessoais.
Por Ivanise Monfredini
Referências:
CANTERLE, Josiane. Dependência digital prejudica saúde de adolescentes. In: SECRETARIA DE SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL (SES). ADOLESCENTRO. Disponível em: https://www.saude.df.gov.br/web/guest/w/dependenciadigitalprejudica-saude-de-adolescentes
COSTA, Larissa Silvana; ALMEIDA, Maria Paula Pereira Matos de. A substituição do brincar: implicações do uso de tecnologias por crianças de 0 a 2 anos. Faculdade de Psicologia. Universidade do Sul de Santa Catarina. Unisul. 2021. Disponível em: https://repositorio.animaeducacao.com.br/handle/ANIMA/20066
COTTAS, Maria. Educar filhos é preocupação de pais. In: Coleção Clássicos do racionalismo Cristão – v.3. Rio de Janeiro: Racionalismo Cristão, 2014.
IBERDROLA: Como combater a dependência das redes sociais. Dependência das redes sociais: principais causas e sintomas. Disponível em: https://www.iberdrola.com/compromisso-social/como-redes-sociais-afetam-jovens
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Diretrizes sobre atividade física, comportamento sedentário e sono para crianças menores de cinco anos de idade. 2019. Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/311664/9789241550536- eng.pdf?sequence=1&isAllowed=y.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Manual de orientação: saúde da criança e adolescência na era digital. Rio de Janeiro: SBP; 2016. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/2016/11/19166d-MOrient-Saude-Crian-e- Adolesc.pdf.
SOUZA, Ludmilla.Exposição excessiva de crianças em redes sociais pode causar danos. Pediatras alertam para os perigos desse hábito, o sharenting. In: Agência Brasil. Disponível em:
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