18 Jan Luiz Thomaz – O Benfeitor da Humanidade

Um idealista de origem modesta

Chamado de benfeitor da humanidade por seu biografo: Dr. Galdino Andrade, Luiz Alves Thomaz pautou sua vida no trabalho, na simplicidade, na honradez e benemerência. Sendo fundador do Racionalismo Cristão com Luiz de Mattos legou a humanidade um bem espiritual de valor transcendente a visão material, e o seu desprendimento dos bens terrenos o notabilizou também pela generosa solidariedade aos menos favorecidos no Brasil, Portugal e Cabo Verde.

Filhos de pais lavradores de Luiz Alves Thomaz e da senhora Maria Diniz Alves Thomaz. Nasceu em 4 de agosto de 1871, sendo o segundo da irmandade de 5 que compartilhava de uma vida modesta junto aos pais. Com uma criação voltada para trabalho, a responsabilidade com a família, e caráter digno e reto, viveu com seus familiares em Moita, Freguesia e Conselho de Castanheira de Pera, Distrito de Leiria, uma pequena comunidade voltada para as atividades rurais. Atualmente pertencente ao distrito de Setúbal, região metropolitana de Coimbra e com uma população de 66.326 aproximadamente em 2021.

Era um idealista e tinha em mente grande realizações que não poderiam ser viabilizadas em uma localidade com poucas oportunidades de trabalho. Desejava a fortuna, desde que fosse resultado do trabalho honesto, honrado, por meios econômicos, regidos pelos princípios morais e éticos que formavam seu caráter. Aos 15 anos deixa Portugal com destino ao Brasil com o fito de realizar seus ideais.

Chegou a Santos em 28 de maio de 1887. No mesmo dia inicia o trabalho de caixeiro em uma casa de secos e molhados. Executava todas atividades atribuídas a ele com cuidado, responsabilidade e com empenho de proprietário. Fato que lhe rendeu respeito e estima de seu patrão. Pensava e agia de acordo com a filosofia paterna, o trabalho é mais importante que o dinheiro, esse é a consequência daquele. Demostrava no seu labor comprometimento, inteligência singular, esmero e exemplar parcimônia.

Com a experiência adquirida tornou-se rapidamente comerciante por um gesto, inesperado por ele, de seu irmão José Alves Thomaz comerciante em Lisboa. Ele enviou a Luiz Thomaz uma carga de vinhos e outros gêneros de exportação, como cebolas e batatas, em consignação. Como não poderia negociar sem ter estabelecido legalmente, retirou parte da carga e vendeu. Pagou as obrigações legais, fiscais e a alfandega pela mercadoria completando com as pequenas economias que tinha.

Um dos homens mais ricos do Brasil no início do séc.XX.

Em correspondência solicita ao irmão que não repetisse aquela aventura, pagou e relatou o prejuízo causado pela perda dos alimentos perecíveis, com um pedido de desculpas. José dobrou as mercadorias enviadas, mesmo diante da negativa do beneficiário. Para conseguir cuidar de toda a carga Luiz formou, em Santos, com o irmão Manuel Alves Thomaz, o estabelecimento, no ramo de secos e molhados, importações e comissões de mercadorias, entre 1888 e 1908. Essa exitosa empresa logo viu seus negócios ultrapassar a praça de Santos, indo para Rio de janeiro e Europa.

Juntamente com seu irmão Manuel, depois de tornarem-se ricos comerciantes no Brasil, mandaram construir naquele vilarejo português uma escola, uma capela, uma ponte, além de uma estrada e ainda contribuir com grandes quantias para o Hospital e Misericórdia de Castanheira da Pera. Mais tarde, para ajudar Cabo Verde, que sofria com grande seca, completa com vultosa quantia, a doação que faltava para enviar alimentos para o arquipélago.

O lucro dos irmãos era tão grande que emprestavam dinheiro sob hipoteca. Contudo, por razões de desinteligência, os irmãos desmancharam a lucrativa sociedade. E uma vez desfeita esta sociedade, Luiz Alves Thomaz retornou a Portugal – onde pouco demorou – e seu irmão, Manuel Alves Thomaz, continuou em Santos dedicando-se ao ramo da hotelaria. Construiu o Palace Hotel, na praia do José Menino.

Este hotel possuía dois lances de escadaria, terraço e decorações arquitetônicas, ostentando uma aparência monumental. Foi inaugurado em 5 de março de 1910 e demolido em 1964, para ser substituído por empreendimento imobiliário.

A dissolução da sociedade dos irmãos trouxe grandes contrariedades a Luiz Thomaz, e, embora, ambos tenham ficado com uma boa fortuna, ele adoeceu em consequência delas. Na divisão de bens da companhia coube-lhe, além de quantias em dinheiro, 4 fazendas cafeeiras, que já tinham a hipoteca vencida com sua firma. Na lida com essas propriedades expressou seu amor pelo trabalho no gosto que desenvolveu pela cafeicultura, fato que o levou a adquirir mais uma fazenda no Paraná. Apesar da saúde afetada fazia longas viagens entre as fazendas, para verificar o andamento dos trabalhos e pagar seus funcionários.

Perdas materiais, ilusões desvanecidas: seu encontro com a espiritualidade

Seu encontro com a espiritualidade foi após perceber que para sua doença, a Medicina da época não vislumbrava cura, assim como, a maturação da ideia de que no espiritismo poderia estar o remédio que lhe faltava. Embora avesso ao espiritismo conhecido da época, onde a mistificação era lugar comum, trazia em si conceitos rudimentares da espiritualidade quando admitia que ele só morreria se sua alma desligasse do seu corpo.

Estava sofrendo sem perspectiva de melhora, até que acompanhou seu amigo o Sr, Manuel João Alves ao centro espírita em que a mulher do comerciante estava sendo curada de meles desconhecidos da Medicina oficial. Tomou nota de tudo que aconteceu na seção espirita. Voltou, pediu um conselho e obteve o diagnóstico e os remédios precisos para o seu caso. Nesse centro espírita praticava a ordem e a disciplina. Convencido da seriedade do espiritismo ali encontrado, buscou formar sua opinião, começou então seus estudos com meticulosa análise do que tinha captado no lugar. Constatou que o espiritismo era um farol que iluminava a vida.

À Luiz de Mattos coube a parte espiritual, à Luiz Thomaz a material

A convite de Luiz Thomaz, Luiz de Mattos conhece o centro espírita, simples e honesto que despertou em ambos o empenho para debruçarem sobre os estudos da filosofia espiritual. Com discernimento separaram o certo do errado, chegando assim, nas bases do espiritismo autêntico. Iniciaram a jornada do Racionalismo Cristão com o Centro Espírita Amor e Caridade em Santos. Com os trabalhos administrativos em 26 de janeiro de 1910, na rua Amador Bueno, 190 foram estabelecidas as normas de funcionamento e o nome Centro. Entre os encontros felizes para Thomaz, daqueles anos, está o com Amélia Maria sobrinha de Luiz de Mattos, que desposou em 1911.

Seguindo firme no trabalho de fortificação e difusão da Doutrina, Luiz Thomaz recebe a autorização do Astral Superior para construir uma sede própria para o Centro Amor e Caridade. Prédio inaugurado em 21 de junho de 1912, na Rua Ana Costa, Santos. Hoje Casa-Berço, construída não só com o terreno doado por Luiz Thomaz, como também foi a suas expensas a própria construção e os móveis para ela necessários.

Sendo Santos uma cidade acanhada, naquela época, houve a necessidade de fundar uma casa no Rio de Janeiro, para uma divulgação mais eficiente da Doutrina. Embora tenha havido esforços, por parte de Luiz de Mattos, não obteve dos seguimentos espiritas existentes, a participação almejada, dentro da disciplina do Astral Superior. Porque, o grupo da Tribuna Espirita, que fazia seções espíritas, concordou inicialmente, a ser uma filial do Centro Espírita Amor e Caridade, com o nome Centro Espírita Redentor. Porém, nem todos os participantes concordavam em seguir as novas orientações, então esses foram desligados. O Centro Espírita Redentor sob a presidência de Luiz de Mattos transferiu-se com o grupo disposto a manter a filiação ao Centro Espirita Amor e Caridade, para a Rua do Rosário, 51, 2º andar.

Então Luiz de Mattos recebeu a ordem do Astral Superior para construir a sede na cidade. Luiz Thomaz adquiriu o terreno e passados 11 meses do início da empreitada estava erguida a Casa-Chefe. Foi inaugurada em 24 de dezembro de 1912, com presenças ilustres da sociedade carioca. A futura sede mundial do Racionalismo Cristão, na Rua Jorge Rudge, Vila Isabel, Rio de Janeiro, Brasil. Hoje é o Solar Luiz de Mattos.

Sendo primordial para expansão da Doutrina, a nova sede foi inaugurada com um pavilhão de tratamento de obsedados, que contribuía para o estudo e a comprovação da prática doutrinária ali desenvolvida.

Os dois Luizes fundaram também o jornal A Razão, em 19 de dezembro de 1916, impresso que era voltado especificamente para divulgação da Doutrina. Contar somente com artigos no Jornal Tribuna Espirita não estava sendo suficiente para suprir a demanda de informações requerida para os esclarecimentos necessários. Desde a fundação o periódico circulou de 1916 a 1922 initerruptamente, encerrado as atividades devido à má gerência do responsável pelo matutino.

Benevolente e altruísta: sua generosidade construiu o Patrimônio e a Independência do Racionalismo Cristão

Como a vida na terra não é fácil, Luiz Thomaz teve contrariedades, passou por perigos e decepções. A Doutrina em seus primórdios, teve alguns seres de pouco valor moral e honestidade. Assim, usufruíram da benevolência e credibilidade dos fundadores que enxergavam neles pessoas de bem e companheiros dignos. Acredita-se que tenha escapado de várias armações, mas destaca-se uma em que seu cavalo se negou a seguir o atalho habitual, para seguir o caminho mais longo. Salvando-lhe a vida, pois tinha uma emboscada à sua espera. Acontecimento em que se nota que a sua boa assistência astral lhe salvou a vida.

Seguidor fiel da Doutrina, consciente que a vida é breve e também querendo fazer sua vontade de legar seus bens a destinatários específico no grupo de familiares, entidades que recebiam sua benemerência e principalmente o Racionalismo Cristão, fez um detalhado testamento onde seus beneficiados são devidamente apontados. A doação destinada ao Racionalismo Cristão foi vultosa e teve como fim de manter a Doutrina independente e com capacidade de expansão próprias ditadas pelo seu ritmo de crescimento.

A doença bateu em sua porta, com grande gravidade duas vezes, antes da despedida final da vida física. No período de 1914 a 1918 sofreu grandemente com feridas no corpo que o deixou de cama por longo período. Outro sofrimento de difícil recuperação foi um tumor no ombro que lhe obrigou a cirurgia e doloridas fisioterapias para recuperar os movimentos. O derradeiro padecimento veio com o agravamento de sua doença crônica devido aos excessos cometidos em suas viagens. Esse o afastou da presidência da Casa Berço em 1931. Ficou internado no Hospital da Beneficência Portuguesa por 12 dias, passou por delicada cirurgia, vindo a falecer em 8 de dezembro de 1931. Deixando consternadas sua esposa e a comunidade racionalista cristã.

A primeira manifestação de Luiz Alves Thomaz foi em reunião 12 de dezembro de 1931. Sua magnifica comunicação fala entre outras coisas da diferença entre sua vida material e espiritual, da prioridade que deu a Doutrina, estimulou os companheiros a cumprirem com denodo seus papéis.

“Como homem físico lutei, como homem astral, hoje luto.

Esta Doutrina, filha das Forças Superiores, sua joia predileta, que a nos foi confiada para sua divulgação na terra, deve ser explanada, ser respeitada e obedecida por aqueles que na terra se dizem seus instrumentos, e o devem ser de fato.
…
Minha manifestação entre vos, amigos, não tem outro fim senão a solidariedade, a amizade, o apoio todo espiritual que doravante vos tributarei.
…
Solicitando-vos pois, a vossa lealdade, e que entre vos exista o espirito de justiça, a sinceridade, desejo-vos fortes para enfrentar a luta, desprendidos para cumprirdes os vossos deveres, independentes para que possais ser sempre respeitados e jamais atacados em vosso moral.” (ANDRADE, 2016,p,137)

No dizer de Antônio Cottas, o Consolidador do Racionalismo Cristão, “Luiz Thomaz impôs-se ao respeito dos seus companheiros pelos notáveis caraterísticos de suas atitudes, enquadradas, rigorosamente, nos elevados axiomas desta Doutrina que ele nos legou. … Foi na vida física como na espiritual exemplo vivo de trabalho e da honra aos seus compromissos” .

Esse que foi o companheiro de Luiz de Mattos e com ele formou os decisivos pontos de apoio do Astral Superior, na implantação da Doutrina, com seu trabalho formou a coluna de sustentação no mundo físico para o Racionalismo Cristão.

Luiz de Souza afirma que Luiz Thomaz reconheceu que as riquezas terrenas nos são confiadas para que melhoremos a vida da humanidade, que ele contribuiu com sua riqueza para o expresso fim de elevação moral da humanidade, construindo este Monumento Doutrinário que irá abrigar todos os habitantes desta terra, embora demore gerações.

Ao fechar os olhos físicos a mais de 90 anos seu legado segue dando frutos não só materialmente na expansão da Doutrina, como pelos exemplos e conselhos visando sempre o bem de todos, pois é movido pela solidariedade e impulsionado pelo amor ao próximo, razão nobilitante da sua prestimosa vida, sendo mais que merecedor desse reconhecimento “Benfeitor da humanidade”.

Por Ana Lúcia Rodrigues, militante e pesquisadora na Filial de Belo Horizonte do Racionalismo Cristão.

Bibliografia:
ANDRADE, Galdino Rodrigues de. Luiz Thomas, benfeitor da humanidade – 1ª ed.rev. – Rio de Janeiro: Racionalismo Cristão, 2016.
Acesso em 14 de janeiro de 2024: https://www.cm-moita.pt/viver/informacao-municipal/noticia/censos-2021-moita-com-mais-habitantes#:~:text=O%20concelho%20da%20Moita%20registou,tendo%20atualmente%2