
29 Mai A BIOGRAFIA DE JACOB E ETELVINA DOS SANTOS PINTO – 3° PARTE
OS FUNDADORES DO RACIONALISMO CRISTÃO EM BELÉM
Dir-vos-ei que o terreno ofertado não comportava a obra a ser realizada, de acordo com esquema remetido pelo Centro Redentor. Nova luta se inicia. Os esforços se multiplicaram, as dificuldades aumentam, mas a esperança de vencer também cresce diante de tantos obstáculos. Encontrado novo terreno capaz para receber a construção pretendida, o doador do primeiro terreno, permutou esta contribuição por 10 mil Cruzeiros, ofertados generosamente. Enfadonho seria vos relatar nesta hora todo transcurso das dificuldades que surgiram para a aquisição do terreno a que estamos nos reportando. Com apenas 50 mil Cruzeiros em nosso poder, num desdobramento de esforços elevamos nossos recursos para 100 mil.
Comunicadas as nossas batalhas em prol da sede própria ao nosso dedicado Antônio Cottas, este elevou para 100 mil cruzeiros a ajuda das Casas Racionalistas, além de 10mil que em seu nome ofertara. Se uma porta se abria para nos encher de satisfações, outras se fechavam para nos roubar todas as alegrias.
Assim foi para conseguirmos que o proprietário do terreno cumprisse a sua palavra empenhada: assim foi a negativa do Governo com relação às despesas com o processo de transmissão de propriedade. Todavia, senhores, em meio a esse temporal sem nome, senti o contentamento de enriquecer o patrimônio do Centro assinada a escritura em nome da Casa Chefe, tudo pelo valor de 230 mil Cruzeiros.
O meu objetivo era não interromper a marcha para atingir a meta final. Em virtude de todos os Filiados terem os seus edifícios padronizados, solicitei planta ao Centro Redentor. Se nada animadora foi a resposta, a qual me deixou algo entristecido, o meu sonho não se desmoronou, entretanto. Não nos assistia o direito de sobrecarregar a Casa Chefe, companheiros e amigos, para a realização do nosso empreendimento. Daí a eclosão de um plano de rigorosa economia, à semelhança das formigas. Serenamente vos digo que por vezes vi crescerem as dificuldades a cada instante, pois o senhorio da casa que estávamos solicita a sua desocupação, repetindo ameaças. Pensei em adaptar uma das casas para as nossas reuniões e recorri ao Centro Redentor.
Companheiros que haviam subscrito algumas importâncias falharam dolorosamente. Agi por todos os quadrantes, num sentido de resolver minorar a situação, e é no tragor dessa luta que em resposta ao meu apelo o Diretório nos oferta 30 mil Cruzeiros, gesto que me veio confortar e encher de novas energias para o prosseguimento da minha tarefa. Pensar em adaptação de uma casa para as nossas reuniões, entretanto, com o auxílio do diretório, resolvera comunicar ao prezado amigo Antônio Cottas que, melhor refletindo, iria dar início a construção da sede própria do nosso filiado, medida que mereceu a aprovação de Cottas, e por proposta do Diretor Francisco Pereira Torres as Casas Racionalistas passariam a nos auxiliar com 10 mil Cruzeiros mensais até preparar a total de sua oferta. Não vos posso dizer o que foi a minha gratidão ao Sr. Torres ao qual, não podendo abraçar fisicamente o fiz espiritualmente e a quem o nosso Filiado está a dever uma boa parte do que é presentemente.
A continua correspondência com esse denodado Antônio Cottas, que tem a centelha do bem irradiado em cada palavra e em cada gesto, é um documentário do que foi o nosso trabalho. E dentro da maior e justa alegria farei do vosso conhecimento que, aprovada a planta, recebida as principais importâncias por intermédio do Banco Inglês, adquirido cimento na fonte de origem, breve veria a obra iniciada. E que cortejo de obstáculos e de dificuldades na luta e todos os dias, quando ora era a falta de material, ora as chuvas e outros tantos entraves naturais no decorrer de uma construção e meu esforço e empenho se tornaram maiores depois que Antônio Cottas me cientificou que, em viagem de repouso, seguiria até Portugal e ali vê o que seria possível fazer pelo Racionalismo Cristão.
Tão logo recebi esta notícia procurei dar ao trabalho um ritmo mais acelerado, a fim de que o nosso bom Cottas, antes de sua partida para o velho mundo visitasse Belém para inaugurar a nossa casa. E para tal não medi sacrifícios.
Desejava que os racionalistas da minha terra conhecessem pessoalmente esse grande trabalhador. Alimentava esperanças de todos nós ouvirmos sua palavra, os seus ensinamentos, abraçá-lo e ele prestar as homenagens que merece.
Ao lado dos trabalhadores, acompanhei a limpeza do terreno; com eles participei das suas refeições por mim mandadas confeccionar para em 22 de setembro comunicar ao Rio que estavam prontos os alicerces, em 7 de outubro enviava fotografias demonstrando o andamento das obras e sempre animado, confundindo-me com os operários, que revelaram grande abnegação, muitas fezes trabalhando sem horário, atravessando as horas da noite, com intenso contentamento em 26 de novembro escrevi dizendo que oito mil telhas estavam cobrindo a construção, as paredes estavam aguardando pintura, empregando o máximo para termos o prazer de dar a Cottas a certeza de nossa amizade e empenho o melhor para que a doutrina tivesse mais uma escola para os que sofrem nesta existência terrena.
Necessitava de repouso àquela altura, e isso Cottas me aconselhava em carta datada de 29 de dezembro, mas como nos seria possível abandonar a marcha ininterrupta da construção, se ali estava toda a nossa alma, todo o nosso mundo? Embora cansado, materialmente revestia-me de ânimo e cada dia que passava eram cobrados os meus ardores e esforços, no que se acentuava a dedicação de nossa querida irmã Etelvina, ao nosso lado sofrendo o horror das amarguras e sorrindo nas horas de calmaria.
Desejávamos realizar a inauguração da nova sede em dias de fevereiro, entretanto uma série de motivos alheios a nossa vontade não nos permitiu essa alegria. De luta em luta, de emoção em emoção, de obstáculo em obstáculo, nunca descremos de que era possível chegarmos ao fim.
Nosso propósito, já com Antônio Cottas não poderia estar presente no ato inaugural da nossa casa, escrevera em carta de 21 de abril de 1950: ”Em Homenagem aos grandes pioneiros Luiz de Mattos e Thomaz e ainda em demonstração sincera da nossa gratidão à grande alma de Antonio Cottas por tudo que há feito para levarmos avante o nosso ideal, ora orientado e sempre nos incentivando, como preito da nossa estima, queremos deixar gravada em nossa alma a data da sua partida para Portugal e assim é que estamos trabalhando com entusiasmo para que a inauguração do nosso Filiado se realize nas vésperas de sua viagem”.
Com que júbilo ultimávamos os retoques em cada recanto, em cada sala, a fim de que na data fixada fosse cumprido o que havíamos prometido, corroborando a verdade de que “querer é poder”.
Finalmente, a inesquecível tarde de 21 de maio de 1950, acompanhado dos grandes amigos Sr. Joaquim Costa e Sr. Ilídio Esteves, representantes da Casa-chefe e do nosso boníssimo Antônio Cottas; de Joaquim Brito, presidente do Filiado de Carolina, que fazia acompanhar de sua digna esposa, e minha irmã Etelvina Pinto e de minha esposa Aída Pinto (minhas grandes incentivadoras), de número elevado de amigos e de todos os dedicados racionalistas de Belém e do povo em geral e de pessoas que já vinham recebendo benefícios da doutrina, além da esforçada companheira Engrácia de Jesus, que deixava o Rio especialmente para estar conosco naquela grande festa, sentimos a alma repleta de satisfação, pois naquela hora cortada a fita com cores da bandeira brasileira, estava inaugurada mais uma escola a serviço do bem e da humanidade.
O povo ali estava para contemplar o nosso esforço e para dizer lá fora que era uma verdade confortadora o Racionalismo Cristão. Ali também se viam a bandeira do Brasil e flores da estupenda e encantadora flora amazônica, artisticamente distribuídas, emprestando ao festivo ambiente um aspecto de beleza.
Sob a mais intensa demonstração de contentamento em todos os semblantes, o Dr. Joaquim Costa deu início à solenidade, expressando o magnifico do fato a que tinha a honra de presidir em nome a casa-chefe do Racionalismo Cristão. Suas palavras, ressaltando a grandeza daquele momento e das batalhas travadas fizeram-me sentir algo que me não foi possível evitar.
E enquanto a alegria se plasmava em cada rosto ali presente eu deixava que minhas faces descessem lágrimas, que me eram a expressão da minha alegria. Permiti que vos diga haver chorado naquele instante, porque somente uma lágrima poderia selar o meu trabalho, a minha perseverança, a minha dedicação em prol do Racionalismo Cristão, doutrina que eu coloco acima de tudo e portanto em auferir tudo o que me é possível.
Aquela lágrima denunciava a minha imorredoura satisfação, pois ali estava o meu ideal na plenitude da melhor vitória, ali estava sublime e majestoso, a magnificência do esforço de todos os racionalistas de Belém, ali o nosso preito de gratidão à doutrina e ao chefe amigo Antônio Cottas, nas vésperas de sua partida a pátria dos navegadores que legaram tantas terras ao mundo nos séculos que se foram.
Companheiro: Sei que estou abusando de vossa bondade e paciência, porem necessitava de dizer-vos alguma cousa do que foi a luta do Racionalismo de Belém na conquista de seu teto. As lutas só podem ter méritos quando são cheias de sacrifícios e trabalho. A vitória que alcançamos veio da nossa abnegação e do amor que dedicamos à obra imortal de Luiz de Mattos, mas ela também é fruto da vossa ajuda, da nossa orientação, pois sem o esplendor da vossa cooperação Belém não teria nessa casa em que os Racionalistas paraenses trabalham para amparar os que sofrem as vicissitudes da vida.
Se ontem senti os melhores momentos de alegria de minha vida pela inauguração da nossa escola de Belém, o meu júbilo, nesta hora, não é menor, quando conosco e com o vosso entusiasmo vou transpor estas portas que se abrirão para deixar escoar para os estão lá fora a claridade mais pura de uma época nova.
Acabais de nos dar esta joia monumental, que é a nova sede do Racionalismo Cristão do Brasil. Para palmear os vossos esforços eu trago toda a alegria dos meus companheiros expressa no meu voto de felicidades.
Vim assistir estas solenidades não só em meu nome como em nome dos companheiros do Filiado do Pará, que tenho a grata satisfação de representar, toda via, meus senhores, rejubila-me dizer-vos que aquele que aqui estou representando ficaram com as almas cheias de festa, esperando ansiosos a minha volta para lhes relatar tudo o que aqui observei, porque isto os alegrará e muito concorrerá para melhor cada um cumprir os seus deveres tudo fazendo pelo progresso da doutrina que o grande mestre Luiz de Mattos nos legou.
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