
16 Mai A BIOGRAFIA DE JACOB E ETELVINA DOS SANTOS PINTO – 1° PARTE – OS FUNDADORES RACIONALISMO CRISTÃO EM BELÉM
Meus amigos e companheiros desta jornada
A comoção que me domina neste instante é de alto significado para mim, que a palavra que reboa neste ambiente sem a devida música encantadora de que esta festa faz jus. Não podeis avaliar a grandeza do meu júbilo, que é imenso como a minha gratidão apreço a obra gigantesca do incomparável timoneiro Luiz de Mattos, lutador e companheiro a quem sou devedor pela minha vitória espiritual. (e porque não dizer que lhe devo até mesmo uma considerável parcela do meu triunfo material).
Nas minhas palavras de gratidão, senhores não há vislumbres de exageros, nem senhor de visionários, mas sim a verdade refulgindo na magnificência da sua pureza incomensurável.
Nesta hora em que minha alma, neste recinto, vem fazer o depoimento da minha sinceridade, permiti que eu viaje pelo passado, que eu vá a um mundo de recordações agradáveis para dizer, diante desta plêiade de almas dedicadas sinceramente à luta, o que foram os nossos dias iniciais, as nossas primeiras horas nesta caminhada boa, porque é a caminhada para a verdade. E como é venturo este instante em que vos posso dizer que na imponência deste edifício se ergue numa escola suntuosa, onde mestres e alunos se confraternizam, e presos aos elos inquebrantáveis de um só pensamento, assumem obrigações reciprocas e prometem hoje a elaboração de um trabalho maior do que o de ontem, todos empregando esforços para que o labor de amanhã seja mais profícuo e mais profundo do que da hora presente, em que os pioneiros convictos e denodados no desbravamento das matas da obscuridade fazem nela penetrar humanidade da verdade, objetivo das almas superiores.
Luiz de Mattos e Luiz Thomas, a um preço de incalculáveis sacrifícios, conseguiram vencer todos os empecilhos naturais em jornadas desta natureza, sacrifícios que foram em demasia, e que nós, os seus discípulos, temos o dever de honrá-los semeado para os vindouros a mesma semente que eles semearam. E para tal empreendimento é do nosso rito de trabalho o desprezo às amarguras da luta, porque sabeis perfeitamente que Racionalismo Cristão tem à frente uma estrada que nem sempre será juncada de rosas, mas sim, na maior parte da sua extensão,
sabemos que cheia de pedregulhos e de espinhos, de dificuldades e obstáculos, os quais teremos que vencer com aquela mesma galharda com Luiz de Mattos se fez um vitorioso diante dos dardos das injustiças e ingratidões que foram atirados.
Relembrando esse passado, que se tornou a fonte das minhas alegrias de agora, que fez forte e valoroso para luta e que me deu ânimo alevantado, e com intraduzível satisfação que vos digo que foi na escola racionalista onde aprendi a ser resignado e, como tributo do meu reconhecimento eu aceitei por ser a doutrina que tudo nos dá quando sabemos caminhar dentro dos princípios e regulamentos.
Meus senhores e companheiros!
Dir-vos-ei que em meados de 1935 foi o meu primeiro contato com o Racionalismo Cristão e isso aconteceu por haver passado por Belém um dos meus parentes, pessoa a que antes conhecera despida de afabilidade e de espirito endurecido como pedra. Notei a transformação, até mesmo na conversação, como nos modos de tratar os semelhantes. Sua palestra inundava-se das belezas da doutrina, realçando as suas curas diversas. Ouvi-lhe as explanações e tão logo lhe pedi dados sobre a nova doutrina tal o interesse que tomei.
Estes me foram fornecidos de pronto e minha irmã, também revelando interesse pela doutrina racionalista, gravou nitidamente na memória os esclarecimentos que nos iam sendo divulgados. Daí o nosso primeiro passo para frente, em nosso lar, minha irmã passou a praticar as primeiras irradiações, tudo obedecendo ás normas do folheto explicativo que nos presenteara. Confesso-vos que era um homem sem crença e sem religião, dedicando-me tão somente ao trabalho e à família, desta fazendo meu sacerdócio, e a terra hospitaleira amando como minha segunda pátria.
Cotidianamente observo as atividades cristãs de mim há aludidas à minha irmã, que através de correspondência e conselhos do Redentor começara a receber tratamento de saúde, inicial a leitura do Racionalismo Cristão e, em conjunto, realizei a tarefa da limpeza psíquica. Disto brotou de minha alma a vontade de trabalhar pela doutrina, que proporciona a todos a grandeza dos seus benefícios, e não poupei tempo para iniciar uma correspondência com o Presidente do Centro Redentor, Sr. Antônio do Nascimento Cottas.
Alegra-me dizer que a resposta desse bem-feito da humanidade, para mim, foi como uma bússola a guiar-me no mar revolto da vida; foi como um farol nas trevas em que me debatia. Nas suas palavras havia em estímulo, um encorajamento, e uma sua frase, que recurso a todo instante, inoculou o meu espírito a coragem precisa para não esmorecer diante das tempestades. “Já que encontrou a verdade – disse-me ele- não olhe mais para traz; encoste-se ao bastão dessa verdade a caminho”. A simplicidade destas palavras seria pálida para os despreocupados, todavia, esta máxima eu via a vitória dos que acreditam no Racionalismo.
Cheio de coragem e de vontade mandei nomes de alguns amigos, para dar começo a uma corrente fluídica. Estabelecida a corrente, com a colaboração de minha esposa, e filhos e de minha irmã, a luta foi das maiores. No decorrer de 1937, talvez para que ficasse em prova o valor da minha abnegação, o governo do Estado doou ao governo federal o terreno em que eu havia edificado o meu trabalho honesto. Pequena fora a indenização, de vez que maiores eram as minhas obrigações no comércio. Leiloei o que foi possível, mas ainda o apurado fora diminuto para atender o volume de compromissos materiais.
De um instante para o outro vi-me reduzido a nada, depois de tantos a anos de trabalho, pois devo dizer-vos que todas as minhas economias estavam empregadas naquele estabelecimento em que exercia a minha atividade. A tempestade foi terrível e dolorosa. Mas, para vencê-la, já possuía conhecimentos da vida fora da matéria. E foi assim que, diante dos acontecimentos, cedo veio a reação e com ela a coragem indômita que me fez esquecer o passado e pensar no futuro.
Sem recursos e sem amigos, pois estes desapareceram quando desaparece, retemos, a minha solução foi de viajar para o Rio e beber na casa chefe mais ensinamentos, receber mais luzes e esclarecimentos para poder dar a Belém uma escola onde os fracos e desiludidos, enfim, os que sofrem pudessem encontrar resignação e coragem para recomeçar novas pelejas em busca de novos êxitos.
Continua na próxima semana….
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