05 Dez OS PAIS, AS TECNOLOGIAS DIGITAIS E A FORMAÇÃO DE CRIANÇAS E JOVENS. PARTE I
Qual é o problema?
“Dezenas de estados americanos acusam, na Justiça, a Meta de prejudicar a saúde mental de crianças e jovens”. Esse é o título de matéria jornalística sobre os vários processos judiciais simultâneos movidos por 41 dos 50 estados americanos, além da capital, Washington, contra a Meta, dona das plataformas Facebook e Instagram. O motivo alegado é que “a companhia contribuiu para a atual crise de saúde mental dos jovens nos Estados Unidos.”[1] E como é possível considerar a responsabilidade da empresa sobre a saúde mental dos usuários?
O processo afirma que a Meta se aproveitou de tecnologias poderosas e sem precedentes para atrair e envolver crianças e adolescentes. O texto segue: “O objetivo da empresa é o lucro e, ao tentar maximizar o ganho financeiro, a Meta repetidamente enganou o público sobre os riscos das plataformas de mídia social”.
O processo alega, ainda, que a empresa usa de forma consciente ferramentas – como as de notificações e rolagem infinita – para prender os jovens nas plataformas, e também sabe que outros recursos – como filtros e curtidas – têm impacto negativo na autoestima deles.
Ou seja, o uso intensivo e excessivo das redes sociais pode viciar o usuário. É a chamada dependência digital, reconhecida como doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS), desde 18 de junho de 2018, quando a incluiu no Código Internacional de Doenças (CID), junto com a nomofobia, que é o medo irracional de estar sem celular ou aparelho eletrônico no geral.
São doenças relativamente recentes, que surgiram em função das mudanças e dos avanços tecnológicos da/na sociedade. Um levantamento aponta que 176 milhões de pessoas no mundo são viciadas em tecnologia. A dependência está relacionada ao vício em outras tecnologias, como computadores e videogames. Ou seja, quanto maior a dependência digital, maior a fobia. Em casos extremos, a dependência digital pode ser comparada ao uso de uma droga que, quando o usuário se vê sem ela, pode apresentar sintomas como taquicardia, sudorese, irritabilidade, impaciência, pânico.” (Canterle s/d).
A revolução tecnológica é abrangente, pois alcança todas as esferas da vida e muda muito mais rapidamente do que a nossa capacidade de conhecê-las e nos adaptar a elas de modo saudável. O nosso objetivo neste artigo é chamar atenção para este tema muitas vezes desconsiderado por pais e mães, que não veem problema algum na utilização exagerada de smartphones e tablets, nem mesmo por parte de seus filhos. Em decorrência, o uso excessivo de eletrônicos, na maioria das vezes, não é monitorado pelos pais, que além disso, são os primeiros mediadores entre a tecnologia e seus filhos, ou seja, são eles quem apresentam e estabelecem esse primeiro contato.
Desde que os primeiros seres humanos começaram a se movimentar neste plano terreno, o desenvolvimento tecnológico é uma realidade. Desde a descoberta de como fazer e utilizar o fogo, até a recente disseminação da Inteligência Artificial (IA), decorreram milhares de anos de incessantes desenvolvimentos tecnológicos que, ao serem utilizados, mudaram profundamente a forma dos humanos serem e estarem no mundo. Olhando para trás, na história, nos deparamos com várias dessas “revoluções”, mas quando se trata da “revolução” tecnológica digital e das comunicações, a velocidade é vertiginosa. Ainda não completou nem um século desde a construção da primeira “supercalculadora” em 1937, e os smartphones e os computadores já fazem parte do nosso cotidiano.
A facilidade em ter os celulares em mãos de crianças e adultos e poder carregá-los, faz com que os momentos em família, com os amigos e de lazer estejam diferentes. Um número crescente de crianças estão começando a fazer uso dos aparatos tecnológicos como tablets, celulares e televisão, que chamam muito a atenção. Ao nascer já são apresentados às telas, por este fator fazem parte de uma geração denominada “nativos digitais” (Costa; Almeida, p.5. 2021).
Além da exposição precoce às telas existem também as redes sociais, bastante utilizadas por jovens, adultos e até crianças, substituindo o tempo antes despendido no relacionamento familiar, com os amigos, ou simplesmente, para estar consigo mesmo, sem “distrações”.
Podemos pensar que as “revoluções” tecnológicas carregam “alavancas evolutivas” que potencializam aos seres humanos alçarem novos patamares de compreensão sobre si mesmos e sobre o mundo que os rodeia. Hoje, que maravilha nos comunicarmos em tempo real com qualquer parte do globo terrestre. O mundo parece ter ficado menor e os seres humanos, mais próximos! Porém, os efeitos das tecnologias sempre dependerão de quem as usa e como as usa.
Os próximos dois textos trazem à luz alguns perigos embutidos nessas tecnologias, os quais necessitamos conhecer, para evitar e, então, utilizar plenamente todo o potencial trazido por elas.
Por Ivanise Monfredini
Referências:
CANTERLE, Josiane. Dependência digital prejudica saúde de adolescentes. In: SECRETARIA DE SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL (SES). ADOLESCENTRO. Disponível em: https://www.saude.df.gov.br/web/guest/w/dependenciadigitalprejudica-saude-de-adolescentes
COSTA, Larissa Silvana; ALMEIDA, Maria Paula Pereira Matos de. A substituição do brincar: implicações do uso de tecnologias por crianças de 0 a 2 anos. Faculdade de Psicologia. Universidade do Sul de Santa Catarina. Unisul. 2021. Disponível em: https://repositorio.animaeducacao.com.br/handle/ANIMA/20066
COTTAS, Maria. Educar filhos é preocupação de pais. In: Coleção Clássicos do racionalismo Cristão – v.3. Rio de Janeiro: Racionalismo Cristão, 2014.
IBERDROLA: Como combater a dependência das redes sociais. Dependência das redes sociais: principais causas e sintomas. Disponível em: https://www.iberdrola.com/compromisso-social/como-redes-sociais-afetam-jovens
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Diretrizes sobre atividade física, comportamento sedentário e sono para crianças menores de cinco anos de idade. 2019. Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/311664/9789241550536- eng.pdf?sequence=1&isAllowed=y.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Manual de orientação: saúde da criança e adolescência na era digital. Rio de Janeiro: SBP; 2016. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/2016/11/19166d-MOrient-Saude-Crian-e- Adolesc.pdf.
SOUZA, Ludmilla.Exposição excessiva de crianças em redes sociais pode causar danos. Pediatras alertam para os perigos desse hábito, o sharenting. In: Agência Brasil. Disponível em:
[1]Fonte: https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2023/10/24/dezenas-de-estados-americanos-acusam-na-justica-a-meta-de-prejudicar-a-saude-mental-de-criancas-e-jovens.ghtml
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